terça-feira, 8 de maio de 2012

sobre as Proposição, Invocação e Dedicatória n'Os Lusíadas


Proposição:

            Na proposição, o poeta pretende exaltar:

            - “As armas e os barões assinalados”, ou seja, todos aqueles homens cheios de coragem que descobriram, “por mares nunca dantes navegados”, novas terras, indo mais longe do que aquilo que alguém podia esperar de seres não divinos, “Mais do que prometia a força humana”.

            - “Daqueles Reis que foram dilatando”, ou seja, os reis que contribuíram para que a fé cristã se espalhasse por terras que foram sendo descobertas, alargando assim o Império Português.

            - “E aqueles que por obras valerosas”, ou seja, todos os que são dignos de serem recordados pelos feitos heróicos cometidos em favor da pátria e que, por isso, nem mesmo a morte os pode votar ao esquecimento, “Se vão da lei da Morte libertando” pois foram imortalizados.

            Para tal compara os feitos dos portugueses aos de Ulisses, herói da Odisseia de Homero e aos de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virgílio, chegou ao Lácio e fundou Roma.

            A proposição funciona como uma apresentação geral da obra, é uma síntese daquilo que o poeta se propõe fazer. Propor significa precisamente apresentar, expor, anunciar, mostrar. O poeta mostra aquilo que pretende ao escrever a epopeia: “Cantando espalharei por toda a parte”. O verbo cantar tem aqui o sinónimo de exaltar, enaltecer ou celebrar, através da poesia,

            se tiver talento para isso, tornarei conhecidos em todo o mundo

            os homens ilustres que fundaram o império português do Oriente

            os reis, de D. João I a D. Manuel, que expandiram a fé cristã e o império português

            todos os portugueses dignos de admiração pelos seus feitos.



Invocação

            Invocar significa apelar, pedir, suplicar.

            Nestas estrofes, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhes que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma sublime: “Dai-me agora um som alto e sublimado, / Um estilo grandíloco e corrente,” Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso persuasivo, onde predomina a função apelativa da linguagem e as marcas características desse tipo de discurso – o vocativo e os verbos no modo imperativo - determinam a estruturado texto:

"E vós, Tágides minhas, (...) Dai-me (...) Dai-me (...)"

            Apóstrofe: A apóstrofe consiste na interpelação ou invocação de alguém ou de alguma coisa personificada, por meio de um vocativo. Repara: para invocar as ninfas, Camões utiliza o vocativo: "E vós, Tágides minhas, (...) Dai-me (...) Dai-me (...)"

            O vocativo pode estar presente numa frase quando se pretende chamar ou invocar alguém, utilizando-se para isso um nome ou expressão equivalente. O vocativo na frase é móvel, pois pode surgir no princípio, no meio ou no fim, mas está destacado por vírgulas.

            Anáfora: A Anáfora é uma figura de estilo que consiste em repetir a mesma palavra no princípio de várias frases ou versos. A forma verbal “Dai-me” (modo imperativo) surge repetida três vezes no início do verso: trata-se da figura de estilo anáfora.



Dedicatória

            A dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia. Camões inclui-a n’Os Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D. Sebastião. Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso era visto como a esperança da pátria portuguesa na continuação da difusão da fé e do império. D. Sebastião, rei de Portugal de 1568 a 1578, foi o penúltimo rei antes do domínio espanhol (1580-1640). O seu prematuro desaparecimento numa manhã de nevoeiro na batalha de Alcácer Quibir deu origem ao mito sebastianista, um sentimento muito português, que nasceu de uma lenda e que tem povoado o imaginário colectivo do nosso povo, ao longo dos séculos. A lenda sebastianista continua envolta numa rede de incertezas e mitos. Realmente, não é incontestável afirmar que D. Sebastião morreu na batalha de Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578, ainda que essa seja a versão mais pacífica. O médico Mário Saraiva, por exemplo, publicou um estudo intitulado Dom Sebastião - Na História e na Lenda, no qual advoga que o rei não morreu nessa data, apoiando-se em documentos, nos quais se vêem escritas frases como esta: «Era um facto que ninguém vira morrer o rei». De acordo com a investigação de Mário Saraiva, D. Sebastião foi batalhar em Alcácer Quibir por ter sido vítima de uma cilada por parte de Espanha, no fito de levarem o jovem rei à morte, o que abriria caminho à dominação filipina em Portugal, a qual acabou por se concretizar. Segundo Mário Saraiva, a corte filipina chegou a intervir no sentido de os portugueses perderem a batalha de Alcácer Quibir, tentando matar D. Sebastião quando este pelejava em Marrocos. A cilada montada por Espanha não resultou e o rei refugiou-se num ermitério, após a batalha. Quando se apercebeu que tinha sido destronado, apelou ao Vaticano e fugiu para Vicenza, de onde foi expulso em 16 de Dezembro de 1600. Posteriormente, alojou-se em Nápoles, onde foi acolhido pelo conde de Lemos. De acordo com a investigação de Mário Saraiva, a prova está numa directiva do Papa Urbano VIII, de 20 de Outubro de 1630, onde se pode ler: «Fazemos saber que por parte do nosso filho D. Sebastião, rei de Portugal, nos foram apresentadas pessoalmente no Castelo de Santo Ângelo duas sentenças de Clemente VIII e Paulo V, nossos antecessores (...), em que constava estar justificado largamente ser o próprio rei e nesta conformidade estava sentenciado para lhe largar (o trono) Filipe III, rei de Espanha, ao que (este) não quis nunca satisfazer, pedindo-nos agora (que) tornássemos a examinar os processos (...)» Sem dúvida uma versão fascinante, que vem pôr em causa as teses que até agora vigoraram.

            Metáfora: O elogio ao rei está presente em toda a dedicatória, mas é desde logo visível nas primeiras três estrofes, salientando-se as várias metáforas, nomeadamente: “Vós, tenro e novo ramo florescente”, que realça a jovialidade do rei. A metáfora é um recurso estilístico que permite estabelecer uma relação de semelhança sem o uso de elementos específicos de comparação (“como”, “equivalente”, “parecido”, “semelhante”, “igual”).

            Aposto: O aposto é uma expressão que vem imediatamente a seguir a outra, normalmente entre vírgulas e que surge como uma caracterização ou explicação complementar. A expressão “poderoso rei” exerce a função de aposto, pois surge a seguir ao pronome “Vós”, adicionando-lhe uma informação que o torna mais completo.

            Sinédoque: Na caracterização de D. Sebastião, o poeta usa frequentemente a sinédoque – figura de estilo em que se troca a palavra que indica o todo de um ser por outra que indica apenas uma parte dele: “Vós, ó novo temor da Maura lança,” Embora só se refira à lança, o poeta pretende designar todo o exército de mouros.

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